terça-feira, 30 de junho de 2009

LENDA DE AGANJÚ


AGANJÚ
Este Orixá representa tudo aquilo que sai. É a larva incandescente do vulcão, derramando-se de forma descontrolada sobre a terra, queimando e destruindo tudo o que encontra em seu caminho. É filho de Oroinã (a Voz do Vulcão) e de Arainã (O magma no interior da terra).
Está incluído na família de Xangô, embora não seja, na realidade, uma "qualidade" deste Orixá.
Encontramos num itan do Odu Iwori Meji, uma narrativa, segundo a qual, Aganjú, por não conseguir controlar sua incandescência, não podia aproximar-se de seus súditos para impor-lhes ordens e disciplina e, desta forma, seu reino vivia no mais absoluto caos, cada um fazia o que bem entendia e a desordem levava tudo à destruição inevitável.
Sabedor da existência de um poderoso monarca que não podia governar seu próprio reino, Xangô resolveu procurá-lo para colocar-se à sua disposição. Foi assim, que depois de dias incontáveis de viagem solitária, Xangô chegou ao reino de Aganjú.
Quando estava bem próximo, ainda no interior da floresta, Xangô ouviu vozes e, por medida de segurança tratou de esconder-se entre as árvores, para poder observar, sem ser notado, o que estava acontecendo.
Esgueirando-se, Xangô aproximou-se o mais que pode do local de onde provinham as vozes e viu, com grande espanto, um homem enorme, cujo corpo era constituído de larva incandescente.
Este estranho ser, deitado no colo de Oxun, vociferava, esbravejava e debatia-se furiosamente, enquanto a Iyagbá, jogando água sobre seu corpo em brasa, tentava acalmá-lo carinhosamente.
"Acalme-se – dizia Oxun – quanto mais zangado mais destrutivo você fica".
"Mas como posso ficar calmo se meu reino está numa desordem total?" Reverberava o gigante que, pelas características, Xangô já identificara como sendo Aganjú.


Foi então que, pressentindo a presença de um estranho. Aganjú bradou irritado:
"Quem está aí escondido entre as árvores? Mostre-se ou incendiarei tudo!"
Calmamente, Xangô saiu de seu esconderijo e, mostrando-se, falou: "Sou eu, Xangô, Rei de Oió!
"E quem te deu permissão para aproximar-se de meus domínios?" Perguntou Aganjú indignado.
"Permissão?" - Zombou Xangô – "e quem disse que eu preciso de permissão de alguém para ir onde me der vontade? Sou Xangô, rei de Oió e vou aonde quero e quando quero!"
Cada vez mais furioso, Aganjú respondeu: ‘Você não sabe a que perigo está se expondo com tanta ousadia! Sabe que posso transforma-lo em cinzas agora mesmo?"
"Transformar a mim, em cinzas? Mas como se posso, sempre que quero transformar-me em fogo? Logo se vê o quanto você é estúpido!"
E imediatamente, para espanto de Aganjú, Xangô transformou-se numa grande labareda.
"Está vendo? Também sou fogo, mas só quando quero." Mostrou o Orixá.
Sem nada entender, Aganjú, humilhado, limitou-se a perguntar:
"Afinal, o que você quer de mim? O que veio fazer no meu reino?"
"Vim oferecer-lhe ajuda"... – disse Xangô - ..."somente eu posso resolver os seus problemas".
"Mas como, resolver meus problemas?" Perguntou Aganjú novamente irritado.
Oxun, que a tudo assistia, limitava-se a jogar água sobre o gigante enfurecido, na tentativa de acalmá-lo. Divertia-se com a ousadia de Xangô e de alguma forma podia prever aonde o rei de Oió queria chegar.
"Não é verdade que o seu reino está em decadência devido a desordem que lá impera?" – perguntou o intruso – "Não é verdade ainda que sempre que você tenta se aproximar de alguém, para transmitir a sua vontade acaba incinerando o infeliz? "


"Sim, sim"... – balbuciou o outro, substituindo a ira pela curiosidade- ..."mas, de que maneira você pode em ajudar?"
"É muito simples" – afirmou Xangô, sentando-se sobre o que restava de um tronco de árvore calcinado por seu interlocutor. – "Basta que façamos um acordo que, diga-se de passagem, é muito mais interessante para você do que para mim".
Desconfiado, Aganjú perguntou: "Que tipo de acordo?"
"É simples..." - continuou Xangô - ...como você mesmo viu, posso, como você, transformar-me em fogo vivo. A diferença está no fato de que tenho absoluto poder de controle sobre este fenômeno, ao contrário do que acontece com você, que não consegue controlar o seu próprio poder. Desta forma, se me for dada autorização, poderei transmitir sua ordens aos seus súditos, sem causar-lhes nenhum dano."
O Filho do Vulcão pensou um pouco e, novamente acometido pela desconfiança, pediu uma explicação:
"Mas o problema é só meu e do meu povo... qual é o seu interesse em colocar meu reino em ordem?"
Brincando com seu machado de lâmina dupla, Xangô continuou em sua explanação.
"Sou rei de um país vizinho e temo que a desordem existente em seu reino alastre-se por toda a vizinhança e chegue aos meus domínios como uma doença contagiosa. É por isto que resolvi oferecer-lhe ajuda. Nenhum outro interesse, a não ser o de manter a segurança de meu próprio reino me traria diante de você".
Oxun, que já entendera as verdadeiras intenções do rei de Oió, limitava-se a esboçar um sorriso misterioso e mal disfarçado. Conhecia a fama de Xangô, sabia o quanto era astuto e que, por traz de tudo o que afirmava o visitante, alguma outra intenção estava escondida.


"Pois bem.. - disse Aganjú - ... e de que forma pagarei pelos seus serviços. Quanto me custará a intermediação que você me propõe fazer entre meu povo e seu rei?"
"Nada! Não lhe custará absolutamente nada!" - Afirmou Xangô desviando o olhar dos olhos abrasadores de Aganjú – Apenas exigirei que você passe a usar as mesmas insígnias que eu uso. Deves, a partir do momento em que nosso trato for oficialmente formalizado, adotar os mesmos símbolos que me representam e que, a partir de então, passarão também a representá-lo. O Oxe, machado de lâmina dupla, o xeré, chocalho que imita o ruído do trovão, fenômeno que também domino serão, a partir de então, símbolos comuns a nós dois.
Desta forma, seu povo, ao ver em minhas mãos as mesmas insígnias usadas por você, não contestará a minha autoridade e, reconhecendo os atributos, acatarão as ordens que a eles eu irei transmitir."
"Qual é a sua opinião Oxun?" Perguntou Aganjú à Iyagbá que já o deixara sozinho indo sentar-se ao lado de Xangô.
"Acho que é uma boa proposta e que você não pode perder esta chance de salvar seu país da destruição."


Enquanto expressava sua opinião, Oxun acariciava, maliciosamente, as tranças que adornavam a cabeça do Obá de Oió.
De um salto, Aganjú pôs-se de pé, no que foi imitado por Xangô. Aproximando-se pacificamente de seu novo aliado, abraçou-o com força enquanto dizia solenemente:
"Aceito a sua ajuda e comprometo-me, a partir de hoje, a usar os símbolos do seu poder."
Depois de retribuir o abraço do novo aliado, Xangô entregou-lhe um xeré e um oxe, partindo em seguida em direção ao reino de Aganjú onde, através do pacto formalizado, passaria a reinar, impondo suas leis e ordens, independente da vontade de seu legítimo rei.
É por isto que Aganjú usa as mesmas insígnias de Xangô que, usando de astúcia, assumiu, com o seu consentimento, o domínio sobre o seu povo.

2 comentários:

  1. A Gênese revela o principio dos fatos, como a Mitologia, que traduz a História que dela queremos respostas, em um sentidos simbólico para ter uma noção dos dois Xangôs, é aceitado este conto para em sua significação. Gostei.

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  2. A Gênese revela o principio dos fatos, como a Mitologia, que traduz a História que dela queremos respostas, em um sentidos simbólico para ter uma noção dos dois Xangôs, é aceitado este conto para em sua significação. Gostei.

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