domingo, 13 de março de 2011

Um Príncipe Negro no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre.




O Principe Custódio e o Batuque no Rio Grande do Sul
1. O Aspecto Histórico:

Com a chegada dos negros escravos, oriundos das várias regiões africanas, aportaram por aqui, várias etnias africanas - dentre elas a etnia Nagô.

Originariamente, os Nagôs eram mais concentrados na região denominada Daomei, hoje Reino de Benin, cujo Rei (Oba) chama-se Osanlelê III (carinhosamente conhecido no meio antropológico por Vô).

Com o advento da invasão inglesa, no início do século passado, aqui chegou um Príncipe chamado Osanlelê do Sapatá Erupê, que para evitar o derrramamento do sangue de seu povo, fez um acordo com a coroa inglesa de auto exilar-se. Em troca, a coroa britânica manteria sua família e a sua côrte no exílio.

O local escolhido pelo Príncipe Custódio Joaquim de Almeida foi o Brasil, especificamente o Rio Grande do Sul, aportando em Rio Grande, após Pelotas e finalmente radicando-se em Porto Alegre, na rua Lopo Gonçalves, bairro Cidade Baixa. Levando uma intensa vida social, política e religiosa. Ainda hoje é possível o contato pessoal com uma descendente direta do Príncipe Custódio, sua neta, Princesa Serafina e seus filhos.

Esse breve relato exemplifica a peculiriadade da colonização gaúcha pelos negros, bem diferenciada do restante do país, pois aqui a grande maioria dos negros cativos eram oriundos da nobreza ou guerreiros.

Os Nagôs sofreram uma miscigenação étnica muito acentuada devido não serem um povo dado às lides da guerra, e sim da cultura. Eram habilidosos artesãos, políticos experientes dado às várias invasões que sofreram em sua terra natal mesmo antes da invasão inglesa, quando por várias vezes foram praticamente dizimados e os poucos que sobravam eram obrigados a migrarem pela África e países vizinhos para com isso, absorverem outras culturas e daí sempre ressurgindo um povo mais culto e a cada migração miscigenado com outras culturas étnicas.

2. O Aspecto Religioso:

No aspecto religioso o povo Nagô ainda observa a herança cultural da ancestralidade africana, principalmente no tocante aos vários rituais praticados. Especificamente no Templo de Umbanda Nagô Reino dos Orixás, esta diversidade é mais observada. Haja visto que neste ritual é o Exú (Exú-Bará) o elo de ligação dos homens com os Orixás. Em outros rituais, Oiós; Bantos; Cabindas; Gegê; Jexás e outros, inclusive outras ramificações Nagôs, o Exú abre os caminhos para que os Orixás cheguem no mundo e atendam os homens.

3. Os Orixás:

Os Orixás africanos em sua terra ancestral eram cultuados em número aproximado de 650 divindades, todos eles caracterizam-se por feitos excepcionais em suas diversas regiões de origem e sempre ligados ao aspecto telúrico. Hoje cultuam-se no Brasil, basicamente oito Orixás dos sessenta e poucos trazidos pelos negros ancestrais.

4. Os Orixás mais cultuados no Ritual Nagô:



Oxalá: o filho de Olurum (Deus).

Oxosse: senhor das matas, sincretizado com São Sebastião.

Ogum: senhor das armas e das guerrass, sincretizado com São Jorge.

Xangô: senhor da justiça, sincretizado com São Gerônimo.

Ibeji: o aspecto infantil, sincretizado com São Cosme e São Damião.

Exú-Bará: o plano terreno, o aspecto da rua, sem sincretismo.

Iemanjá: deusa das águas salgadas, sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes.

Oxum: deusa dos rios e cachoeiras, sincretizada com Nossa Senhora da Conceição.

Iansã: deusa dos ventos e das tempestades, sincretizada com Santa Bárbara.

Xangô Orixá de Nagô: filho de Inaminã, sem sincretismo.

5. Considerações Finais

Para concluir este breve trabalho, que mostrou uma pequena parcela da riqueza dos cultos Afro-brasileiros quero declarar que concentrei a pesquisa na nação Nagô, devido ao fato de que é nesta nação que nasci e fui criada, de maneira tal que, a religiosidade passou a ser uma parte sagrada de mim e daqueles que são meus irmãos de fé.

Toda a minha família paterna, incluindo minha mãe, é devota da religião, salientado o fato de que meus pais, tios, avós paternos e uma prima são iniciados prontos, que dedicam, por livre e espontânea vontade, uma parte valiosa da vida à nossa religião.

Um Príncipe Negro em Porto Alegre
São João Batista de Ajudá era uma fortaleza portuguesa, no Daomé, outrora muito povoada por cristãos negros. Foi construída, por ordem do rei D. Pedro II, para proteger o importante comércio que então os portugueses faziam na Costa da Mina, território à beira do Oceano Atlântico, no golfo da Guiné. Daomé foi colônia de vários países, até que a Grã-Bretanha comprou a parte dos demais ocupantes, tornando Daomé inteiramente propriedade inglesa. Os ingleses, então, tiveram de entrar em acordo com os reis e príncipes negros que governavam as terras. Um desses acordos resultou na deportação de um rei africano. Com outros governantes, foram feitos acordos financeiros, por eles aceitos, a fim de evitar o massacre do seu povo. Entre estes, estava o príncipe de São João Batista de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina. Não se sabe por qual motivo o exilado escolheu o Brasil. Talvez por haver aqui grande número de descendentes de escravos nativos da Costa da Mina, os chamados pretos-mina. Inicialmente, fixou-se em Rio Grande e, mais tarde, foi para o interior de Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa de seu povo, com a prática que hoje se conhece como batuque. De Bagé, mudou-se para Porto Alegre, adotou o nome Custódio Joaquim de Almeida e tornou-se um líder de sua raça. Rodeado pela nobreza, viveu muitos anos em Porto Alegre e conservou todos os hábitos de origem e os ritos da seita africana. Morto em 1936, aos 104 anos, com ele desapareceu uma das figuras mais impressionantes da capital gaúcha


Mercado Público é templo de religiões afro-brasileirasA história resolveu jogar uma pá de cal sobre Custódio Joaquim de Almeida, o primeiro negro a comandar o poder gaúcho nos bastidores. Manejando os membros mais ilustres de sua época, é um nome que sempre arrepiou os que escreveram a história branca do Estado. Depois de peregrinar em vão pela Bahia e Rio de Janeiro, os búzios indicaram ao príncipe exilado de sua terra, Benin — entre a Nigéria e o Togo —, pela coroa inglesa, o Rio Grande do Sul como uma espécie de terra prometida. Alcançou o porto de Rio Grande em 1864 e chegou a Porto Alegre no início do século passado. Circulou como um branco livre, em plena escravatura, pela corte rio-grandense, de braços dados com ilustres líderes políticos, de Júlio de Castilhos a Getúlio Vargas, que durante seu governo perseguiu os seguidores das religiões afro.
Custódio plantou o Bará, orixá que, segundo a tradição, abre e fecha os caminhos, em 7 pontos da capital gaúcha. Entre esses lugares estaria o Palácio Piratini e o Mercado Público, que trouxe a figura do príncipe negro de volta durante a reforma do prédio histórico, em 1993. O prédio é um lugar místico para os adeptos dos terreiros há mais de cem anos. Depois de ficar dias a fio deitados com a cabeça marcada pelo sangue de animais, o seguidor do Batuque levanta e vai ao Mercado cumprir o ritual do passeio. Na prática, há os que dizem que a figura do príncipe negro não passe de uma lenda; e os que procuram desenterrar uma história bem escondida. Morto aos 104 anos, em 1936, Custódio deixou um legado espiritual que tem pesado por mais de um século sobre o Rio Grande do Sul.




Um Príncipe Negro Morou em Porto Alegre - Parte 2Os portugueses antes poderosos tinham se contentado com uma parte do Guiné e com as Ilhas de São Tomé e Príncipe cedendo as suas fortalezas. As condições para que o Príncipe de Ajudá não oferecesse qualquer resistência aos invasores, além pelo respeito à vida dos seus súditos, era a de que se exilasse e jamais voltasse aos seus domínios. E, como parte do convênio, a Grã-Bretanha se comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer parte do mundo onde estivesse, por intermédio dos seus representantes consulares.Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil, não se sabe. Talvez por haver aqui grande número de descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina - os chamados "pretos-mina" - ou outra qualquer razão; sua chegada a nossa terra foi assinada com acontecida em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajudá. Inicialmente fixou-se em Rio Grande mais tarde foi para o interior de Bagé onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa do seu povo - com a prática do que agora se conhece como Batuque - além de mostrar conhecimentos das propriedades curativas da nossa flora medicinal, atendendo muita gente doente que o procurava, tratando de minorar-lhes os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos.De Bagé mudou-se para Porto Alegre onde chegou em 1901 com 70 anos de idade. Foi morar na Rua Lopo Gonçalves, nº498, cujos fundos davam para a Rua dos Venezianos(hoje Joaquim Nabuco), mas logo que o príncipe que havia adotado o nome brasileiro de Custódio Joaquim de Almeida - ali se instalou, passou a rua a ser preferida pela gente de cor que procurava com isso acercar-se do homem que incontestavelmente, era um líder de sua raça.O príncipe Custódio - como então era chamado - iniciou-se ali uma nova etapa de sua aventurosa vida, cercando-se em Porto Alegre de um aparato digno de um verdadeiro fidalgo.A família do príncipe de Ajudá aos poucos foi crescendo e não demorou a atingir o número de 26 pessoas, sem contar os empregados em boa quantidade.Os fundos da casa onde morava - com saída à Rua dos Venezianos (Joaquim Nabuco, hoje) - servia para a sua coudelaria, pois possuía nada menos do que nove cavalos de raça - alguns importados da Inglaterra - os quais todos os domingos disputavam corridas. Para manter e cuidar esses animais havia um grupo selecionado de empregados, jóqueis, etc., sob a supervisão direta do príncipe, que se classificava como "tratador". O príncipe Custódio tinha oito filhos, três homens e cinco mulheres (atualmente ainda estão vivos um homem - Dionísio Joaquim Almeida, funcionário aposentado da EBCT - em Porto Alegre, e duas senhoras, uma residindo no Rio de Janeiro e outra em São Paulo) e para esses oito filhos, quando pequenos, mantinha quatro empregados, um para cada dois.

Um Príncipe Negro Morou em Porto Alegre - Parte 3Seus conhecimentos de idioma português não eram muito corretos, porém podia expressar-se fluentemente em inglês e francês, além de falar ainda vários dialetos das tribos africanas que havia governado. As festas a que levava a efeito periodicamente em sua casa - notadamente na data de seu aniversário - duravam três dias com a casa sempre cheia de gente, da manhã à noite, se comia e se bebia do bom e do melhor ao som dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta e duas horas. E nesses dias o príncipe recebia a visita da gente mais ilustre da cidade, inclusive do presidente do Estado, Borges de Medeiros que, conhecendo a ascendência daquele homem sobre a população de cor, ia felicitá-lo, talvez mais por motivos políticos do que por outra coisa. Naquelas festividades era certo o comparecimento de senhoras e cavalheiros da melhor sociedade porto-alegrense, além de capitães da indústria e comércio que dele precisavam o apoio para o perigo de greves e outras imposições. As mais finas bebidas eram importadas diretamente da Europa, especialmente para aquelas ocasiões especiais, embora elas nunca faltassem a mesas do príncipe exilado. A casa do príncipe vivia sempre lotada de gente, de visitantes e de pessoas que ele encontrava nas ruas e lhe pediam auxílio. Mandava essas pessoas embarcarem na carruagem em que estivesse e as levava para a sua residência onde sempre havia lugar para mais um . Todos ali ficavam até que quisessem ir embora. Entre os que viveram muito tempo junto ao príncipe estava um branco, desdente de alemães oriundo de São Sebastião do Caí, que tinha feito estudos de medicina e dessa maneira o auxiliava no atendimento aos doentes que continuamente o procuravam em busca dos remédios e dos "trabalhos" do chefe africano exilado.Para os rigores do inverno o príncipe Custódio adotou o poncho gaúcho, embora não dispensasse o gorro que marcava a sua personalidade, não o deixando nem quando visitava o Palácio Piratini onde sempre era bem vindo e onde havia ordens superiores de bom atendimento, e onde ele muitas vezes usava o seu prestígio para conseguir alguma coisa que lhe fosse solicitada por qualquer membro de sua comunidade.Durante todos os anos em que viveu em Porto Alegre - 31 ao todo - nunca manteve correspondência ostensiva com parentes ou amigos deixados em terras africanas. De lá recebia informações e daqui envia notícias suas em mãos por intermédio de marítimos que tripulavam vapores vindos à nossa metrópole transportando e levando mercadorias. Também nunca se soube o teor dessas correspondências. De incentivo ao seu povo para uma possível rebelião não era. Pois ele sabia ser isso humanamente impossível. Além disso, a Inglaterra, em todo o longo período do seu exílio, sempre cumpriu religiosamente o que fora estipulado. Mensalmente o consulado britânico local entregava-lhe um saquinho cheio de libras esterlinas, cuja troca em mil-réis servia para manter a pequena corte da Rua Lopo, a família numerosa, os agregados, os empregados, e ainda serviam àqueles que o procuravam nos momentos de aperturas financeiras.

Um Príncipe Negro Morou em Porto Alegre - Parte 4No verão, em janeiro, o programa era conhecido. Ia todo mundo para a casa de propriedade de Custódio Joaquim de Almeida, na Praia de Cidreira. A viagem para o velho balneário era qualquer coisa de sensacional e folclórico. Embora fosse dono de carruagem e tivesse dinheiro para alugar quantas diligências quisesse, o príncipe gostava de viajar em carretas puxadas por bois na maior calma e na mais incrível lentidão. E ainda mais: a viagem era feita por etapas em ritmo de passeio, parando em muitos lugares onde ele era sempre esperado com festas e cerimônias religiosas africanas, muita comida e muita bebida, pois todos sabiam que tudo seria pago pelo viajante ilustre. Dessa maneira nunca o trajeto de Porto Alegre à Cidreira era feito em menos de uma semana. Quando eram gastos apenas cinco dias, considerava-se um recorde de velocidade.
Com as carretas de transporte dos passageiros seguiam outras carregadas de mantimentos, inclusive muitos sacos de milho e dezenas de fardos de alfafa, aos cuidados dos empregados, pois os cavalos de corrida do príncipe também iam aos banhos de mar. Isso, ele como treinador e tratador, fazia questão fechada.
A maior festa que a Cidade Baixa já viu foi quando Custódio completou cem anos de idade. Nesse dia muita gente "bem" foi abraçá-lo em sua casa, e ele, dando demonstração de sua vitalidade exuberante, montou a cavalo sem receber qualquer ajuda. Aliás, isto ele fez até poucos dias antes de sua morte, quatro anos depois.No dia 26 de maio de 1936 morreu o príncipe Custódio aos 104 anos de existência. Seu velório e seu enterro, atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições africanas com muito batuque e muitos "trabalhos", em intenção do morto.Com ele desapareceu uma das figuras mais impressionantes e esquisitas da nossa cidade, e muita gente ficou desamparada, pois a subvenção paga mensalmente em libras pelo governo inglês extinguiu-se com a morte do príncipe de Ajudá.

Um comentário:

  1. Confesso não ter entendido um aspecto, qual seja, o post é assinado por Eduardo d'Oxum, mas existem referências no texto como se fora escrito por uma mulher!
    Outro ponto está em que absolutamente ninguém conhece a ritualística que fora praticada pelo Príncipe Custódio, de tal forma que não existe como comparar absolutamente nenhuma bacia autodenominada Nagô como um elo relacional para as práticas.
    O texto diz "[...] e ainda serviam àqueles que o procuravam nos momentos de aperturas financeiras" porém existem alguns relatos que apontam justamente o contrário, ou seja, que ele um discriminador dos negros que aqui viviam.
    Se tão bom fosse, por que não existe em Porto Alegre, alguma rua, praça ou parque que o homenageie?
    Existem muitas controvérsias e muitos mitos construídos em torno do Príncipe; infelizmente, a verdade talvez jamais seja efetivamente reconhecida.

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